A história dos Mutantes começou quando eu,Arnaldo, fui convidado para integrar a banda Woodfaces onde já tocava guitarra meu irmão e primogênito da família Dias Baptista, Cláudio César. Como a maioria dos conjuntos dos anos 60, fizemos muitas apresentações em festinhas, tocando um pouco de tudo. Um ano depois os Woodfaces terminaram, pois alguns de seus integrantes queriam tocar Bossa Nova, o que para mim e meu amigo Rafael era praticamente uma ofensa.
Em 65 Rafael me apresentou duas garotas, uma se chamava Suely e a outra Rita Lee Jones. Nós decidimos formar junto com o baterista Pastura e o caçula da família Baptista, Serginho, a banda Six Sided Rockers.
No ano de 1966, com o nome de Os Seis e com Mogguy no lugar de Suely, gravamos pela Continental o compacto: "Suicida / Apocalipse". Após as gravações, mesmo contra nossa vontade, a gravadora lançou o compacto que acabou sendo um fracasso, vendendo menos de 200 cópias.
No dia 15 de outubro de 66, nos apresentamos no programa Pequeno Mundo de Ronnie Von, já sem Mogguy, Rafael e Pastura e com um novo nome: "Os Mutantes". Em 1967, acompanhamos Gilberto Gil no 3° Festival da Record obtendo a 2ª colocação com a música "Domingo no Parque".
Já em 68, entramos em estúdio para gravar nosso primeiro LP, que acabou levando o nome da nossa banda e que entre outras músicas trouxe duas que se tornaram clássicos no seu repertório: "Panis Et Circenses" e "Bat Macumba".
Em janeiro de 69, fomos convidados para tocar em Cannes na França, no famoso Midem (Mercado Internacional de Discos e Editores Musicais). O segundo disco foi lançado no mesmo ano de 69, trouxe a hilariante "2001" e pérolas como "Dom Quixote e Rita Lee". Em Julho, estreiamos o espetáculo Planeta dos Mutantes, que misturava música, colagens lisérgicas, cenas bizarras de fígados de galinha e operações de crânio (que invariavelmente levavam espectadores a sair correndo do teatro). Para terminar o ano, nos apresentamos no 4º Festival Internacional da Canção com a música "Ando Meio Desligado".
Na segunda quinzena de 70 lançamos o LP "A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado". Além da faixa título, o disco possuía outras faixas excelentes (modestia a parte), como por exemplo, "Ave Lúcifer" e "Jogo de Calçada". Foi também a partir desse LP que o grupo contou com o reforço de Ronaldo Leme, o Dinho, na bateria. Nosso ano terminou com um show no Olímpia, na França. Aproveitamos para gravar algumas faixas em estúdios franceses e também para experimentar LSD pela primeira vez.
No início de 71, fomos contratados pela Globo para nos apresentarmos no programa Som Livre Exportação. No começo foi divertido, mas logo perdemos o interesse de nos apresentarmos no programa pois o contato com cantores de Bossa Nova, cantores da Velha Guarda e Sambistas não nos agradava muito.
O LP "Jardim Elétrico" foi lançado em março de 71 e trouxe um dos nossos maiores sucessos, a canção "Top Top", além de algumas música gravadas na França como por exemplo "Virgínia" e "El Justiciero". Foi a partir desse LP que os Mutantes contaram com o reforço do baixista e amigo Arnolpho Lima, o Liminha, pois eu passei a me dedicar apenas aos teclados. Os fãs mais ligados logo perceberam que aquela planta engraçada na capa do novo Lp nada mais era do que um pé de maconha. O ano acabou com muitas confusões para o nosso lado dentre quais ficaram mais famosas as do programa Flávio Cavalcanti e Hebe Camargo (onde eu quase surrei o tecladista Caçulinha, hoje no programa Domingão do Faustão).
Em março de 72 chegou nas lojas o Lp "Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets", dessa vez a censura implicou com a música "Cabeludo Patriota" e nos obrigou a trocar seu nome e sua letra. O disco trouxe também o maior sucesso de toda a nossa carreira, a música "Balada do Louco". No dia 19 de setembro do mesmo ano lançamos o Lp "Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida" (considerado por muitos o nosso "Sgt Peppers"). Na verdade, o disco foi gravado como o segundo solo de Rita, mas como todos nós tocamos e compusemos as músicas o disco ficou conhecido como sendo dos Mutantes.
Em 72 participamos de nosso último festival, o 7º Festival Internacional da Canção, com a música: "Mande Um Abraço Pra Velha". No final do ano, recebemos nossa pior notícia: Rita anunciou que estava deixando o grupo, porque eu disse que não havia mais lugar para ela. Sérgio tentou impedir e disse que os outros sairiam com ela, afinal quem eu pensava que era? Deus? Mesmo assim Rita decidiu seguir seu próprio caminho, pois bem sabia que com o meu carisma conseguiria convencer os outros a ficar, o que realmente aconteceu.
O ano de 73 começou muito bem para o grupo, que estreava em São Paulo o show "Mutantes com 2000 Watts de Som", o que não era nenhum exagero pois realmente o público recebeu nos ouvidos 2000 Watts de som, potência na época só comparável à do Pink Floyd. Com esse pique todos entraram no estúdio para gravar aquele que seria nosso 6º Lp , com o nome de "O A e o Z". Quando as gravações acabaram, porém, a gravadora decidiu não lançar o disco, alegando que ele era anti-comercial, pois nenhuma das seis faixas tinham menos que sete minutos de duração e nós, os Mutantes, pareciamos estar fazendo música apenas para pessoas que, como nós, eram viciadas em LSD. Nossa banda foi dispensada.
Os ensaios continuaram na Cantareira, porém meu corpo dava sinais de que não aguentaria muito mais das drogas e eu fui ficando cada dia mais perturbado. Alguns dias depois, durante um show, surtei e fiquei apenas brincando com as letras do seu nome e quando Sérgio e Liminha foram tomar satisfações fiquei irritado disse que estava saindo do grupo. Já tinha saído da sala quando Sérgio, Liminha e Dinho começaram a chorar, pois sentiram que pela primeira vez, o futuro da banda estava ameaçado.
Superado o choque inicial da minha saida, meu irmão decidiu chamar para Manito (ex-Incriveis) para me substituir e este chegou a fazer alguns shows com a banda, mas por mais brilhante que fosse como instrumentista, não tinha meu humor ou as minhas idéias. Algumas semanas depois o próprio Manito decidiu amigavelmente deixar o grupo.
Para substituí-lo foi chamado Túlio Mourão, que tocava na banda "Veludo Elétrico". Os ensaios com Túlio mal haviam começado quando Dinho reclamando de problemas físicos com a mão direita decidiu largar a banda. Túlio indicou o baterista carioca Rui Mota também ex-Veludo Elétrico.
No início de 74, o grupo decidiu se mudar para Petrópolis e assinaram um contrato com a Som Livre. A maior parte do material já estava composto para o novo LP, quando Liminha e Sérgio tiveram uma forte discussão e o baixista decidiu sair também. Sérgio se viu sozinho com parceiros que mal conhecia. O jeito foi chamar Antônio Pedro de Medeiros outro ex-Veludo Elétrico.
Em novembro de 74 lançaram o Lp "Tudo Foi Feito Pelo Sol", que seguia a linha progressiva do engavetado "O A e o Z". As sete faixas foram gravadas sem play-back. Com exceção feita a Túlio, que resolveu gravar seus teclados sóbrio, todos os outros tocaram sobre efeito de ácido.
No início de 76, novas turbulências afetaram a banda. Além dos dois empresários terem sumido com a grana da turnê, bate-bocas internos culminaram com as saídas de Túlio e Antônio Pedro de Medeiros. Para seus lugares foram chamados respectivamente Luciano Alves (ex-Flor de Lotus e Veludo Elétrico) e Paul de Castro (ex-Veludo Elétrico). Paul na verdade, era um guitarrista improvisado no baixo.
Em agosto de 76, deram início a vários shows no Museu da Arte Moderna no Rio de Janeiro, e foi tirado desses shows material para um novo Lp, dessa vez ao vivo. A banda ao ouvir as fitas ficou arrasada e entregou tudo nas mãos do produtor Peninha Schmidt. Peninha reduziu o show de quase duas horas para apenas quarenta minutos, desprezando assim vários solos e longas passagens instrumentais. A audição da fita quase acabou em briga. Mesmo criticando o trabalho de edição, a banda decidiu lançar o LP daquele jeito. Acabou sendo um fracasso de vendas, o que ajudou a baixar ainda mais o astral do grupo.
Em 77 os Mutantes embarcaram para fazer alguns shows em Milão, na Itália, a convite de um antigo amigo da banda. Às vésperas do show, o tecladista Luciano Alves discutiu com Sérgio, pois queria tocar algumas músicas mais brasileiras como por exemplo: "Fé Cega Faca Amolada" de Milton Nascimento. Sérgio, roqueiro inabalável, recebeu aquilo como uma blasfêmia, e o líder dos Mutantes sentiu que o fim do grupo estava novamente próximo.
Ainda na Itália, para piorar a situação, os Mutantes foram convidados pelo produtor italiano Flávio Carraresi para gravar algumas faixas em estúdio. Ao chegarem lá, o produtor disse que gostaria que os Mutantes gravassem "Disco Music", com direito a mulatas (a imprensa italiana havia criticado o show por faltar algo mais brasileiro). Ao escutar aquilo os rapazes correram como o diabo correria da cruz.
Ao retornarem para o Brasil, Paul de Castro anunciou que estava saindo devido ao baixo astral e constantes discussões entre os membros do conjunto. Mesmo assim, Sérgio tentou pela última vez me chamar, mas me encontrou mais perturbado e depressivo.
Sete meses se passaram até o retorno dos Mutantes aos palcos. Dessa vez foi no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1978. O grupo voltou a ser um quinteto com a entrada de Fernando Gama (ex-Veludo Elétrico) e de sua mulher Betina, (que Sérgio cismava que poderia ser cantora, apesar desta nunca ter cantado fora do chuveiro).
Sérgio tentou resgatar a velha fórmula dos Mutantes com o retorno de duas velhas canções do grupo, "Ando Meio Desligado" e "Panis Et Circenses", além, é claro de uma voz feminina na banda, Betina (que por sinal teve uma estréia nada animadora).
Mesmo sem entrosamento e nenhuma vontade o grupo se apresentou em Ribeirão Preto para apenas 200 pessoas. Ao final do show a sensação de decadência era evidente, isso devido ao não entrosamento dos músicos, às letras fracas e faixas mesmo sem título.
No dia 6 de julho de 78, o grupo fez na mesma Ribeirão Preto seu último e fraco show, depois do qual Sérgio compreendeu que aqueles não eram mais os Mutantes e que a bomba Mutante não poderia, e nem iria mais explodir. Sendo assim decretou o fim da Banda.
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