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No coração de quem viveu aqueles anos, os anos inaugurais da bossa-nova, na minha voz delicada, prazer sou Silvinha Telles. Eu sou um marco “na transição do samba-canção romântico dos 50 para a bossa-nova”, da década seguinte – segundo João Máximo. Um marco dos anos 60. Foi tão grande num gênero quanto no outro, com a mesma voz quente, íntima, sincera.
Eu nasci em 1934. Estreei em 57, num espetáculo de teatro, cantando Minduim Torradinho, e, em seguida, num LP da Odeon, Carícia, no qual cantei Chove Lá Fora, de Tito Madi; Se todos fossem iguais a você, de Tom Jobim e Vinicius de Morais; Canção da Volta, de Ismael Neto e Antônio Maria; entre outras canções.
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Em 59 gravei, em julho, o LP Sylvia, ainda na Odeon ( músicas de Tom Jobim, Tito Madi. Dolores Duran e outros), e, em outubro, o LP que a consagraria definitivamente: Amor de Gente Moça ( outra vez com músicas de Tom, de Vinicius, de Ronaldo Bôscoli...). Este disco, gravado com grande orquestra, deu à bossa-nova, até então só ouvida com os pequenos conjuntos característicos da Bossa-Nova, a oportunidade de mostrar-se em toda a minha tiqueza musical, como também a de sair dos salões dos apartamentos da Zona Sul do Rio e ganhar o Brasil de forma definitiva, e, logo em seguida o mundo. Diz-se que, comigo a bossa-nova se profissionalizou, deixando de vez de ser amadora.
Em 1966, a notícia da minha morte repentina , no auge do meu sucesso, num violento acidente de carro - no qual também morria o meu namorado, Horacinho de Carvalho, meu filho com Horácio de Carvalho, dono do jornal Última Hora e Lily de Carvalho ( hoje Lily de Carvalho Marinho) - atingiu em cheio o coração dos brasileiros. Tinha 34 anos. E meu tom intimista deixarou em cada um dos brasileiros a fantasística sensação de ter perdido, mais que uma grande artista, ou uma artista do coração, mas alguém bem mais próximo deles. Ainda hoje, quem viveu aqueles dias, de prazer e de luto, não ouve a minha voz sem ter o coração acelerado.
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